sexta-feira, 18 de março de 2016

Lula e o Judiciário em xeque

A atitude ilegal do juiz Sergio Moro ao divulgar uma escuta telefônica onde uma das pessoas era a Presidente da República já mereceria seu imediato afastamento do cargo pelo Conselho Nacional de Justiça. Os grampos feitos em 25 advogados do escritório que defende Lula são execráveis, ferindo o sigilo entre advogados e 300 clientes. São dois fatos que levaram juristas de renome a serem unânimes sobre tais crimes. Teve quem dissesse que deveria ser preso. A presidente Dilma chegou a sugerir que se o grampeado fosse o presidente americano Obama a pessoa seria presa.

Moro sai do episódio como rasgador de Constituição e vingativo porque aproveitou para liberar áudios de Lula sem nenhuma relação com o que quer que esteja investigando contendo ligações particulares. Numa delas Lula critica a Dilma o STJ e o STF, chamando-os de acovardados diante de Moro, e diz temer a "República de Curitiba", referindo-se à força-tarefa da Lava Jato. Essa vingança de Moro nas mãos da Globo foi combustível  para intrigas e manipulações insuflando o ódio no povo. Juízes fizeram severas críticas a Lula, esquecendo que terão que julgá-lo mais cedo ou mais tarde por algo que ainda não se sabe mas procura-se obstinadamente provas.

Em uma sessão do STF o ministro Gilmar Mendes faz discurso político  atacando Lula dizendo que está sendo ministro para ter foro privilegiado, ou seja, prejulgando Lula.  Após o prejulgamento hoje decidiu numa ação do PPS suspender a posse de Lula como ministro da Casa Civil e devolver o processo ao juiz Moro, entendendo que Lula não tem foro privilegiado e dando a senha para seja preso, como queria Moro antes do dia 13/3 para inflamar espetáculo midiático dos coxinhas nas ruas. Foi atrapalhado por três procuradores que, em busca de fama, pediram a prisão de Lula e o deixaram impedido de fazer a prisão. Dias depois a juíza de São Paulo mandou para ele a cabeça de Lula em bandeja de prata. Lula tomou posse como ministro e frustrou de novo Moro.

O juiz cometeu um erro cujo desdobramento foi avenidas cheias de manifestantes hoje ao tentar o sequestro de Lula no dia 4/3 em uma operação midiática ilegal. Os militantes do PT acordaram e programaram os atos de hoje. Nesse meio tempo Moro cometeu o erro de grampear Dilma. O tom aumentou. Hoje já não se protesta mais só contra o golpe contra Dilma, mas em defesa da democracia, bandeira que amplia bem mais o leque de pessoas nas ruas.

Um juiz de primeira instância, sem olhar para o processo e decidindo em 28 segundos suspendeu a nomeação de Lula para ministro. Tinha um vasto acervo no seu perfil do Facebook de críticas ao governo, a Lula e Dilma. O processo caiu por suspeição.

E agora, mesmo com o mundo jurídico reclamando dos desmandos de Moro desrespeitando o estado de direito e do partidarismo de Gilmar anti-Lula, como ficam as decisões do STF? Vão julgar com base nos autos ou vai prevalecer o corporativismo ferido pelas declarações de Lula? Teremos mais julgamentos políticos e personalíssimos? Como fica a imagem do judiciário se condenar Lula em alguma coisa? Vão passar por vingativos.



Brasil : As estrelas na Noite de Cristal

Nazistas classificavam judeus com estrelas na roupa. E todos os outros
inimigos para que fossem humilhados e agredidos pelas ruas. Comunistas,
ciganos, homossexuais e outras etnias que não fossem da "raça pura" também
eram identificados. Hoje no Brasil basta uma peça de roupa vermelha.
Desde as primeiras greves no ABC, ainda na ditadura Geisel, a mídia e os politícos de direita trataram as lideranças como criminosos. Já faziam antes, mas como seus aliados militares reprimiam fortemente qualquer mobilização apenas deduravam os que se elevavam. Foi o caso de Herzog, dedurado pelo deputado Marin (aquele da CBF), preso e "suicidado".

Lula sempre foi tratado como criminoso por fazer luta de classes, mas atacá-lo por esse prisma ampliava sua liderança. Era preciso desqualificá-lo, esmagá-lo com uma força descomunal, para que servisse de exemplo. Como Tiradentes: enforcar, esquartejar e mandar seus restos para todo o país para dar o recado a quem tentasse se sublevar. Lula tinha que ser analfabeto, nordestino, cachaceiro, apedeuta, e finalmente, ladrão. O pobre que traiu os ideais e enriqueceu com um maravilhoso triplex em Santos e um sítio de altíssimo luxo em Atibaia, que não são seus mas a mídia o presenteou. Além de incompetente e ignorante, ladrão!

Se Mandela passou 29 anos na cadeia sem liberdade e esquecido, Lula há 29 anos é lembrado e caçado diuturnamente. Sua chegada ao governo foi um milagre em meio a todos os truques sujos usados pela direita e pela mídia para miná-la. A mídia passou a atacar cada realização sua. Veio o mensalão e o primeiro herói, Joaquim Barbosa, que se incumbiu de dar elementos ao imaginário popular do "PT criminoso", mesmo num processo onde provas foram desprezadas e correndo em paralelo a outro, envolvendo o PSDB, que só agora terminou com condenações sem alarde.

Apesar de tudo, Lula se reelegeu em 2006 e em 2010 e 2014 elegeu Dilma, que continuou o projeto de melhoria das condições de vida do povo porém sem a ajuda do ambiente externo, que desde 2008 se deteriorou. O massacre midiático tirou o nexo causal entre melhoria da vida de milhões de pessoas e ações políticas de governo. O carro na garagem, a casa própria, os bens de consumo, o poder aquisitivo mais elevado, tudo isso passou a ser "Deus quem deu" ou "consegui por mérito".

Com Dilma a misoginia entrou em campo. Se era um absurdo um trabalhador ser presidente, o que se dizer de uma mulher? Dilma sempre foi na mídia e na direita a fraca, incompetente, burra, mulher mal amada, etc, etc. Mais dura que Lula no enfrentamento com políticos corruptos de base aliada e com a mídia, teve que enfrentar desde manifestações de rua legítimas que foram engolidas por um levante fascista, boicotes e até uma operação juridico-midiática criada para ser o tribunal do PT, Lula e dela própria e tirar-lhe a eleição em 2014. Ela está aí até hoje e mudou o foco para Lula porque é o candidato mais contado para 2018. Acabar com o registro do PT, botar Lula na cadeia e depor Dilma passou a ser a estratégia da direita e da mídia.

Interesses estrangeiros evidentes também pesaram nessa guerra. Patrocínios a grupos de direita brasileiros e a políticos corruptos para entregar o pré-sal, acabar com o programa nuclear, com a defesa nacional e retornar o Brasil à condição de mera colônia do imperialismo são pautas em andamento.

Em meio a tudo isso a incessante campanha de calúnias e difamação não encontrou freio por parte dos movimentos sociais. Uma parte da esquerda, decepcionada e traída pelo PT, lavou as mãos e passou a jogar pedras que se encontraram com as da direita nos mesmos alvos.

Com a Lava Jato veio a sabotagem econômica. A Petrobrás teve seu fluxo de investimentos interrompido paralisando diversas cadeias econômicas. A construção pesada parou em grande parte. Desemprego em massa, queda no consumo, queda no PIB comemorado como prova de incompetência, perseguições a empresários, tortura em cárcere público buscando confissões que criminalizassem o PT, Lula e Dilma.

Nada disso teve efeito devastador. Atacar Lula como golpe final passou a ser a tática. Devassaram tudo. Já têm a sentença pronta, só falta colocar o crime e as provas. Lula vai ser preso, como numa obra de Kafka. A tentativa ilegal de sequestro de Lula para Curitiba acordou os petistas para a marcha do golpe. Depois veio a trapalhada dos 3 patetas que impediu Moro de prender Lula antes da manifestação da direita em 13/3, que seria apoteótica nesse caso. Não deu certo e lideranças de direita foram vaiadas por todo o país. A massa foi mais à direita ainda e quer sangue.

O que era episódico e limitado às altas faixas de renda passou a se generalizar. Perseguir personalidades identificadas com o PT, como Chico Buarque, nos restaurantes e aviões, agora é caçar qualquer um que tenha uma peça de roupa vermelha, use barba ou qualquer outra coisa que lhe dê "cara de petista". Na ditadura Pinochet chegaram a proibir o uso de barba por lembrar "coisa de comunista".

O papel da mídia na criação desse clima é evidente. De vários anos para cá se nota que nas eleições para presidente a votação no exterior, coincidentemente onde tem a Globo internacional, é muito mais à direita que no Brasil. É a única informação que recebem, sem contraponto. Vi muito disso, chega a ser um discurso padrão. O que faz hoje haver, simultaneamente, pessoas com ódio aptas à violência de Roraima ao Rio Grande do Sul, em tempo real? Por que na quarta-feira, dia 16, quando Lula foi anunciado como ministro frustrando o "gran finale" da Lava Jato: a imagem de Lula algemado!

A partir dessa frustração a Globo passou a exibir em tempo real qualquer coisa que lembre uma manifestação contra Lula, Dilma e PT. Não importa se são neonazistas, skin heads, senhoras udenistas, fascistas militarizados: o que servir para incitar mais pessoas a irem às ruas será bem-vindo.

Desesperado, o Juiz Moro publica gravações obtidas ilegalmente a partir de um grampo no telefone da Presidente Dilma e, junto com outras gravações que podem ser exploradas por mesquinhez ou preconceito de Lula, jogou na mídia, que manipulou tudo e aqueceu o clima do golpe. Ontem Lula tomou posse mas não levou, porque um juiz inimigo político deu uma liminar em 28 segundos para impedir que assuma suas funções. Outras do mesmo tipo estão pipocando pelo país para piorar a crise. Como Pôncio Pilatos, entregou ao povo na rua o julgamento a partir de "provas" selecionadas.

Fazem de 300 pessoas jantando filé oferecido pela FIESP fechando a Avenida Paulista o epicentro do golpe. A PM de Alckmin mostra passividade, quando em outros tempos com outros atores já teria baixado o cacete. Essa mesma polícia já mostrou a que veio quando intimidou pessoas reunidas em sindicatos e na sede do PT. Coincidentemente, as sedes da UNE, Instituto Lula e PC do B foram pichadas.

Se do lado da direita há essa escalada de violência que não quer esperar pelas vias institucionais de impeachment ou cassação de chapa no TSE, na esquerda ainda há quem ache que isso é coisa de petralhas x tucanalhas e que se deve esperar passivamente pelo resultado. O terrorismo campeia pela população, na forma de boatos para estocar alimentos, etc.

A violência é explicitamente incentivada pelo grupo criminoso Revoltados On Line, que pede espancamento de quem for aos atos pela democracia nesta sexta, 18 de março, que pode ir para a história como a nova Noite das Garrafadas. Na Alemanha nazista, bem antes da guerra, nos anos 30, policiais das guardas nazistas (SA e SS) pintaram em todos os estabelecimentos de propriedade de judeus uma estrela, enquanto os meios de comunicação pediam que se boicotasse esses estabelecimentos.

A partir daí grupos nazistas andavam pelas ruas cantando músicas anti-semitas. Em1935 foram proibidos casamentos entre judeus e alemães de "raça ariana". Em 1938 veio o ápice da violência que ficou conhecido como a Noite dos Cristais. Usando como pretexto a morte de um alemão por um judeu na França, foi dado o sinal para atacar sinagogas, lojas e casas de judeus. No caso, o partido nazista organizou isso.

No Brasil, a Globo pode dar a o sinal a qualquer momento. Escolha sua estrela, entre as tantas que usaram nos campos de concentração para separar judeus, comunistas, ciganos, negros, etc. A do pessoal do PT já está escolhida, mas nós poderemos ganhar uma. No fascismo, não há inteligência, só morte... Vamos às ruas defender a democracia, o estado de direito, as liberdades individuais e combater a ditadura judicial-midiática que mergulha o Brasil em clima de guerra civil.