sexta-feira, 1 de maio de 2015

1o de Maio : Por que Dilma não foi à TV fazer o discurso aos trabalhadores?

Quando vi gente de direita e a mídia dizendo que Dilma não faria o discurso do 1o de Maio pela TV com medo de um panelaço fiquei indignado e achei que era mentira, pois seria uma demonstração de submissão à minoria amplificada por mídia. Não encontrei desmentidos e depois soube que haveria apenas mensagens em vídeo nas redes sociais, que atingem a menos da metade da população.

Achei isso um desrespeito à classe trabalhadora. Minha veia sindicalista aumentou a pressão e o cérebro passou a exigir a radicalização. É prá ir à TV sim, denunciar a violência contra trabalhadores praticada pelo PSDB, o golpismo do Congresso buscando eliminar conquistas sociais e, num ato extremo, anunciar a retirada das MPs que mudam o acesso ao seguro-defeso, ao seguro-desemprego e à pensão por morte. Dilma, finalmente, assumiria o lado da maioria em oposição à minoria rica e barulhenta por força de mídia. Luta de classes em versão light, mas luta de classes.

Eis que no Paraná o governador Beto Richa resolve meter a mão na previdência dos professores e estes reagem fortemente com mobilização para impedir a votação dos projetos na Assembléia Legislativa. O governador tucano monta um forte aparato policial que reprime com violência a tentativa dos professores se aproximarem do palácio e mais de 150 são feridos. O assunto ganha repercussões que furam a blindagem da mídia defensora do PSDB e chega às páginas internacionais. Entidades como a OAB, Anistia Internacional, CNBB e outras pedem investigação. Um escândalo!

Qual a reação dos que cobravam um discurso de Dilma para apedrejá-la? Silêncio sepulcral! Até onde puderam mostraram os fatos com agressão dos violentos professores a pobres policiais indefesos. Só prosperou na mente dos menos favorecidos mentais. Uma grande parte da população, que respeita a categoria dos professores e apóia suas lutas por educação de qualidade, aliou-se a eles repudiando o ato do governador. Que foi à TV dizendo que professor é que é o bandido na estória.

Cadê o presidente do PSDB, Aécio Neves, que cobra discurso de Dilma mas não fala nada sobre isso? Essa incoerência talvez seja a chave para tornar coerente a suposta incoerência de Dilma ao não discursar pela TV.

Dilma não faz as coisas da cabeça dela. Tem assessores bons, inclusive de marketing. A avaliação desde a votação-relâmpago da PL 4330 é que o ataque aos direitos dos trabalhadores mudou o foco do ódio a Dilma. Muita gente passou a vê-la como a Compadecida da obra de Ariano Suassuna, ou seja, como a protetora a quem se apela em última instância para barrar a diabólica oposição. Resumindo: "veta, Dilma", murmurado por bocas que até poucos dias antes a chamavam de vaca.

A mudança do foco da hipocrisia das vestais da moralidade versus corrupção só de um partido, que levava milhares às ruas pedindo golpe militar, impeachment e morte, perdeu o ímpeto entre 15/3 e 12/4 a ponto dos organizadores desses movimento não marcarem mais nenhum ato, prevendo sucessivos fracassos de público. Com a publicação do balanço da Petrobrás e de alguns indicativos que contrapõem o pessimismo orquestrado da mídia e oposição, o governo se consolidou e o prestígio de Dilma parou de cair. Hoje há uma espécie de trégua a Dilma, que foi a Recife e a Xanxerê sem que um séquito de radicais de direita a vaiasse ou tentasse agredi-la.

Essa avaliação deve ter pesado na decisão de não ir à TV e dar motivação à mídia partidária para chamar um panelaço, vaia, apitaço, etc contra a sua falação. Ou seja, reacender o ódio irracional, que já vem cedendo com a luta de classes entrando na centralidade da política. Bastaria acabar o discurso para o Jornal Nacional mostrar imagens de Higienópolis, Barra da Tijuca, Aldeota e outros bairros de alta renda com madames batendo panelas nas varandas, realimentando novos movimentos, manifestações, etc.

Dilma frustrou isso. Quem quiser criticá-la, que veja os 3 vídeos na Internet, cujos links estão a seguir. Indiretamente, Dilma tirou o poder da TV e transferiu para a esfera virtual. Não deu ibope a novelas decadentes nem a telejornais dirigidos a acéfalos. E sua mensagem, se não é a que esperava, aponta eixos de diálogo com os trabalhadores, de valorização do salário mínimo e contra a terceirização geral dos empregos.


- DIÁLOGO - https://www.youtube.com/watch?v=DJ58NuRobx0
- TERCEIRIZAÇÃO - https://www.youtube.com/watch?v=sFqra2efPnA
- SALÁRIO MÍNIMO - https://www.youtube.com/watch?v=kt3elIvle9Y


Nenhum comentário:

Postar um comentário