quarta-feira, 2 de abril de 2014

YOUTROUXA 0097 : "Eu não mereço ser enganada pelo IPEA"

 IPEA - Pesquisa "Tolerância Social à Violência Contra as Mulheres
A ignorância sobre estatística, que é uma ciência matemática de difícil entendimento, pode até levar a suspeição sobre alguns elementos de uma pesquisa. Já a estupidez dos que sabem para manipular é imperdoável. A VEJA botou chifre em cabeça de cavalo com a pesquisa do IPEA sobre violência contra a mulher porque entre os dados coletados em campo havia 65% de mulheres, e daí a fazer suposições sobre a polêmica do estupro foi fácil. Como o IPEA é ligado à Presidência da República, as intenções da VEJA podem ser de mostrar "incompetência" do governo, a tese da direita na atualidade.

A idéia da mensagem que circula no Facebook, além de desqualificar o IPEA, é atacar as mulheres que estão postando mensagens tipo "eu não mereço ser estuprada". O fim do texto ressalta que o autor entende que as pessoas que fazem isso são ignorantes: Antes de protestar por algo #VAITERQUEESTUDAR 

Essa "supremacia intelectual coxinha" aparece também no nojo em relação a pessoas de menor escolaridade opinarem: "Mais um detalhe lindo sobre os entrevistados é que 41,5% dos entrevistados possuem menos que o ensino fundamental."

Faltou dizer que a renda média familiar dos entrevistados, de R$ 531,26  não corresponde à dos iluminados do Morumbi ou do Leblon. E que pobre não pode dar palpite, por extensão, afinal, para os coxinhas só quem pensa no país são os 20% mais ricos.

Por fim, aponta como caminho para a verdade e a luz textos da revista VEJA de um tal Felipe Moura Brasil, que se não for um baita estatístico correrá o risco de ser tachado de palpiteiro sobre o que não conhece.

A pesquisa tem muito mais informações interessantes para discussão, como o que se pensa sobre relações homoafetivas,  violência doméstica, etc. Está no site
(http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/SIPS/140327_sips_violencia_mulheres.pdf), e recomendo que seja toda lida.

Só alguém que conhece muito de estatística pode desafiar o IPEA e seus 50 anos de experiência, demonstrando erros com argumentos científicos. Ou alguém que tenha a presunção de se achar acima do conhecimento especializado criando suas próprias verdades por idiotia. Ou quem não tem caráter nenhum e quer faturar politicamente em cima do pouco conhecimento sobre o assunto. Pior: na VEJA. citada no texto,  os comentários vão no sentido de que "as mulheres direitas têm menos risco de estupro", não é, Rodrigo Constantino?

 Segue o texto publicado nas redes. Suprimi a foto onde uma mulher mostrava um cartaz com os dizeres "Eu não mereço ser enganada pelo IPEA" :

-------------------------------------------------------------------------------------------------------
A guria da foto, cujo nome, segundo o que consegui apurar é Cristine representa uma minoria de mulheres que priorizam o cérebro ao decote.
Quando a mídia começou a divulgar que 65% dos brasileiros achavam que a culpa de ser estuprada era da própria mulher, ao invés de começar a postar coisas do tipo (hashtag)vaiterquerespeitar, ela preferiu se informar sobre a pesquisa realizada pela IPEA e notou o quão dúbias e passivas de diversas interpretações eram as perguntas realizadas na pesquisa. Outra coisa que chama muito a atenção é que 66,5 dos entrevistados na pesquisa eram MULHERES, isso mesmo, você leu correto, mulheres, o que nos abre duas possibilidades, ou as próprias mulheres acham que certos tipos de de mulheres merecem ser estupradas, ou a pesquisa foi realmente tendenciosa e fez os entrevistados acreditarem que opinavam em relação a alguma coisa, ao passo que opinavam sobre outra, uma verdadeira indução ao erro.Mais um detalhe lindo sobre os entrevistados é que 41,5% dos entrevistados possuem menos que o ensino fundamental.

Caso queiram a ficha técnica da pesquisa da IPEA, aqui vai ela:

Características da população entrevistada (3810 pessoas)

A) Residentes no Sul ou Sudeste (sse): 56,7%
B) Residentes em áreas metropolitanas (metro): 29,1%
C) Pessoas jovens, 16 a 29 anos (jovem): 28,5%
D) Pessoas adultas, 30 a 59 anos: 52,4%
E) Pessoas idosas, 60 ou mais anos (idoso): 19,1%
F) Mulheres (fem): 66,5%
G) Brancos (branco): 38,7%
H) Católicos (cato): 65,7%
I) Evangélicos (evan): 24,7%
J) Demais religiões, ateus e sem religião: 9,6%
K) Menos que o ensino fundamental: 41,5%
L) Ensino fundamental (edufunda): 22,3%
M) Ensino médio (edumedia): 30,8%
N) Ensino superior (edusuper): 5,4%
O) Renda domiciliar per capita média: R$ 531,26

A fonte foi este site, cuja matéria que fala a respeito do assunto se mostrou bastante esclarecedora, por sinal:
http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2014/03/28/a-culpa-do-estupro-nao-e-da-mulher-mas-a-da-confusao-e-da-pesquisa-do-ipea-essa-sim-merece-ser-atacada/

Se quiserem mais informações sobre a opinião dos brasileiros em relação a estupradores, esta matéria contem um gráfico que mostra que as coisas não são bem da forma que estão contando pra vocês:
http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2014/03/29/estupro-machismo-culpa-levante-a-plaquinha-eu-nao-mereco-ser-enganada-pelo-ipea-e-mais-maioria-defende-pena-de-morte-ou-prisao-perpetua-a-estupradores/

Antes de protestar por algo #VAITERQUEESTUDAR
Sem mais.


PS: Em 04/04/14 o IPEA publicou errata da pesquisa informando que trocou dois gráficos no relatório final, e o dado correto para a afirmação "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas", que tinha a aceitação de 65%, passou para 26%, o que continua vergonhoso. Mais em http://blogdobranquinho.blogspot.com.br/2014/04/ipea-corrige-graficos-mas-violencia.html



Um comentário:

  1. Como homem feminista, mangina e esquerdista que sou, abomino toda forma de patriarcalismo, de machismo e de exercimento de poder do homem sobre a mulher. A mulher deveria ter o poder total e irrestrito na sociedade, bem como isenção de punições legais, já que sofreu uma opressão histórica e necessita de reparação urgente!

    Deveríamos fazer leis que garantissem às mulheres o direito de andarem completamente nuas nas ruas e em locais públicos, se posicionando como quisessem em frente aos homens (até mesmo de quatro) sem que eles pudessem esboçar qualquer reação de desejo. Deveriam existir leis severas para punir os homens que demonstrassem qualquer forma de interesse pelas mulheres. Isso erradicaria completamente o estupro e o assédio da sociedade.

    Se mesmo com a adoção de tais leis persistissem alguns assediadores teimosos, bastaria aplicar-lhes a castração química. Deste modo, toda possibilidade de violência sexual desapareceria.

    Além disso, as mulheres deveriam ter o poder de decidir a posteriori se atos sexuais que ela consentiu foram ou não forçados, pois em muitos casos elas incialmente consentem, mas depois se arrependem e concluem que foram induzidas ou forçadas a isso e, em tais situações, o homem deve ser considerado um agressor sexual. Em outras palavras, as relações sexuais consentidas também deveriam ser passíveis de serem qualificadas como estupro se a mulher assim o desejasse, pois todo mundo sabe que os homens, nesses casos, sempre dizem que as mulheres consentiram.

    ResponderExcluir