domingo, 3 de novembro de 2013

Black Bloc : A busca pela origem da violência

Na semana passada o governo federal  chamou secretários de segurança estaduais para propor ações conjuntas contra a violência que vem esvaziando manifestações em algumas cidade, com atos de destruição de patrimônio público e privado, enfrentamentos com a polícia, etc.

Ao mesmo tempo que o governo federal diz não poder deixar de reprimir a violência, quer entender as raízes do  movimento para buscar soluções, segundo Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Presidência da República. Como dialogar com um grupo que não tem cara, não tem propostas e nem interlocutores? A questão parece ser bem mais complexa, e as ações violentas continuam sem que se busque soluções. E dão margem a qualquer grupo marginal se confundir com aqueles que realmente têm algo a protestar e não dialogam com a sociedade.

"“...A linguagem aparente, insisto, aparente, é muito da destruição, da negação. Agora nós precisamos de alguma forma ter alguma ponte. Estamos buscando com muita força esse diálogo para que consigamos achar uma saída eficaz porque a repressão é necessária, mas só reprimindo não vamos resolver na profundidade o problema”, disse.
Carvalho disse que concorda com a afirmação de algumas pessoas sobre a população ter ficado, de certa forma, “refém” do movimento. “O próprio esvaziamento das manifestações mostrou isso. A população começou a recuar frente à violência”, disse. “O que nós queremos é impedir a violência, mas, ao mesmo tempo, ir à raiz do problema para entender essa questão e tomar medidas que resolvam”"... (fonte: Agência Brasil)
De certa forma  a presidente Dilma parece estar chegando perto das origens. Seu repúdio à morte de um jovem negro, via Twitter, pode ter atingido o âmago da questão: a política de gueto que leva pretos e pobres ao desrespeito pelo Estado, em especial pela polícia:
"“Nessa hora de dor, presto minha solidariedade à família e aos amigos. Assim como Douglas, milhares de outros jovens negros da periferia são vitimas cotidianas da violência. A violência contra a periferia é a manifestação mais forte da desigualdade no Brasil”, escreveu a presidenta."
O conceito Black Bloc virou uma espécie de Bombril para todas as finalidades de contestação, inclusive por fascistóides, mas se formos atrás de como apareceram vamos voltar à repressão policial ao Movimento Passe Livre, em junho. Apanharam na terça, e na quinta houve a reação, sem cara, anárquica, porque o alto preço da passagem é mais uma componente que oprime os brasileiros do gueto. E o ódio à repressão policial serviu de combustível para o que veio depois. 
Se Dilma quer saber onde está o núcleo do problema deve seguir seu pensamento e atacar o problema na origem: a periferia não aceita mais passivamente, como os judeus nos guetos do nazismo, ser institucionalmente humilhados. Pouco adianta ter havido um ascenso social, que beneficiou grandes contingentes favelados das grandes cidades, se as pessoas não forem respeitadas como cidadãs. Seu governo tenta reverter 500 anos de desigualdade e violência contra a periferia, e buscar soluções para eliminar o muro invisível entre o asfalto e a favela seria cabível. 
No Rio, em especial, o crime organizado mantinha uma estrutura de confronto com o estado opressor. A polícia era recebida a bala, o crime organizado tinha tentáculos na estrutura policial, judiciária e até no legislativo, e fazia nos territórios ocupados a própria lei, igualmente opressora porém com aspecto de guarda-chuva protetor sobre os mais oprimidos. 
A política de pacificação, objetivando dar segurança ao Rio para grandes eventos como a Copa do Mundo, tirou poder territorial dos criminosos, tentou construir uma nova relação com as comunidades mas ficou no meio do caminho, porque o tratamento de gueto continua. Até as manifestações culturais foram proibidas, como o funk. O gueto já viu isso outras vezes, quando se criminalizou o samba, a capoeira, os cultos afro, etc. 
No Rio as ações anti-Copa parecem dizer que a cidade não pode ser segregada em áreas "dos cidadãos", áreas "pacificadas", áreas "dominadas pelo tráfico" e "áreas da milícia". A cobrança pela verdade no caso Amarildo, que ganhou o país e o mundo, é uma ferida aberta pela qual se enxerga o tratamento absurdo responsável por cerca de 6 mil "amarildos" todos os anos. O governador Sérgio Cabral é visto como o responsável maior por tudo isso, o que pode justificar a força do movimento "Fora Cabral", a ocupação da sua rua, etc. A denúncia da chacina na Favela da Maré, exposta em todos os viadutos da Avenida Brasil, também cobrou providências além da busca dos culpados, mas de respeito às pessoas das comunidades.


Dilma tem que entender esses sinais e atacar o problema de frente. Há uma dívida no campo dos direitos humanos em relação à população da periferia. É preciso rigor contra as torturas, as batidas policiais ilegais, as milícias, e respeitar o direito à organização sócio-cultural nas comunidades. A emancipação da periferia como parte cidadã no tecido social é o preço a pagar para a redução da violência em todos os sentidos. São 513 anos do mesmo, Dilma. A coragem para enfrentar e mudar essa realidade é a chave do sucesso. Não dá mais para fazer de conta que essa dívida não existe. 





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