domingo, 9 de junho de 2013

Mídia Bandida 0024 : "Prá trás, Brasil!"

Na pior fase da ditadura militar, em 1970, com os assassinatos e torturas correndo soltos nos porões dos DOI-CODI, a Globo estava afinadíssima com o slogan "Prá Frente Brasil, Salve a Seleção". Tudo para fazer da festa uma cortina de fumaça sobre o que acontecia no país e promover o "milagre econômico" dos militares.

Hoje, em plena democracia, acabo de ver o Brasil vencer de 3 x 0 a França, e em pleno Rio de Janeiro, onde é comum ouvir gritos e fogos comemorando gols de quaisquer dos grandes times locais, pairou o silêncio. Cadê a torcida para comemorar uma vitória que não tínhamos há 21 anos contra um tradicional rival, a primeira em alguns anos contra um time grande? SUMIU!

O que está acontecendo? O problema é com os ingressos caros para os jogos, que mesmo assim alguém compra e lota os magníficos estádios? É com o preço dos estádios e o mimimi "tem estádio mas não tem saúde"? É com a seleção brasileira, que nos últimos anos virou um balcão de negócios onde foram parar vários mercenários escalados a partir de interesses de donos de passes? Tudo junto?

Isso tem sua razão de ser, mas se olharmos time a time veremos que estão todos em crise financeira por má gestão, que a formação das equipes obedece à lógica de mercado, e os ingressos já estavam ficando caros antes mesmo dos novos estádios. Mesmo assim as torcidas apoiam, sofrem e comemoram, usam as camisas, discutem com os torcedores adversários, etc. Existe a pátria dos times.

Ninguém mais é Brasil. Paira o "viralatismo", ou seja, a seleção  não presta, o Brasil não presta, nada presta, não vou me identificar com isso, não tenho pátria, meu time é a seleção e dane-se o resto. O que se passa? Nunca na história deste país houve tamanha depressão no sentimento nacional, mesmo com a economia fornecendo pleno emprego, com a miséria reduzindo e as pessoas consumindo como nunca. Por que não gostar do Brasil?

A explicação não está em nenhum dos elementos anteriores. Há um massacre cotidiano, implacável, contra o Brasil e os brasileiros para que não se identifiquem com as suas conquistas dos últimos 10 anos. A questão é ideológica, porque seis famílias dominam toda a comunicação de massas no país, e promovem essa destruição de valores e amor à terra natal. A ponto das camisas da seleção estarem fora das bancas de camelôs e ninguém ver uma só pintura nas ruas.

Submissos a interesses estrangeiros e de grandes capitais, a eles não interessa que alguém grite "Brasil" e demonstre orgulho de ter nascido aqui. Interessa o desgosto, a depressão, fazer achar que o país está indo para trás, que nada dá jeito em nada. Nunca se destruiu um povo como a mídia brasileira vem fazendo. Até os patrocinadores devem estar preocupados, porque colocam suas imagens e marcas associadas a um propósito que não atrai praticamente ninguém, ou seja, se o torcedor não apóia o time, o que se dirá do desejo de adquirir alguma coisa oferecida pelo marketing.

A melhor coisa que vi no jogo foi uma propaganda da cachaça Ypióca cujo slogan falava em "brasileirar". Acho que alguém que fez a campanha sabia do que se passa, e propôs que o brasileiro seja o que é, brasileiro, filho desta terra, que corra atrás do que é seu, que apóie e critique. E que espante os agourentos como a nossa mídia que aposta no "prá trás, Brasil".

Já o Itaú está com um problemão. Aposta que dizer que "o banco oficial da Copa é brasileiro" agrega valor. No atual estágio de hipnose, de azumbizamento do povo em relação ao seu país, o que é mesmo ser "brasileiro" e o que isso faz mover alguém para abrir uma conta nesse banco? Jogaram bilhões e podem não ter nenhuma agregação de valor para a sua marca.

Está na hora de levantar a cabeça, sem deixar de criticar o que está errado, mas assumir que se não formos um povo, uma nação e não lutarmos mesmo que seja pela principal paixão nacional seremos dominados sempre.


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