domingo, 23 de junho de 2013

Discurso de Dilma deixa a Globo com medo

Para a Globo, a festa das ruas vai acabar. Seu editorial de ontem "Ultrapassou os Limites" parece ter absorvido o impacto do discurso de Dilma da sexta à noite e os fez recuar. Há rumores da existência de pesquisa mostrando que a maioria da população, diante dos movimentos das ruas, quer que a presidente aja, e não um golpe. No discurso houve um elemento extremamente preocupante para o gigante da mídia golpista: Dilma quer o apoio das ruas para acelerar as mudanças. E deu pontos de pauta para que o movimento lute: 100% dos royalties do petróleo para a educação, contratação de médicos estrangeiros para preencher as vagas em hospitais e reforma política.

Há horas em que o povo parece bobo, mas a Globo nunca é. No início do movimento pelo passe livre, condenou tudo chamando a todos de vândalos e baderneiros. Depois, vendo o antipartidarismo do movimento e a grande adesão popular, apostou na possibilidade de pautá-lo contra o governo na questão da inflação que precisa ser mostrada com vilã para dar discurso aos demo-tucanos. O artigo "A revolução do tomate" da jornalista Eliane Catanhede, da Folha, reforça esse esforço de mídia que já está até nas versões de jornais internacionais. A verdade deles é "o Brasil está em crise por causa dos altos preços, do descontrole inflacionário, e do baixo crescimento, o tal do pibinho".

Em 15 de maio escrevi o artigo "Revolução capitalista de Dilma provoca golpismo de direita", levantando que os setores que virem de especulação, insatisfeitos com a queda de juros, buscariam todas as formas de mudar isso, desde o patrocínio do discurso da alta inflação que mereceria aumento de juros até o golpismo de direita. Em meio a tudo isso, botar um discurso arrumadinho na boca da oposição. Vide os recentes programas eleitorais do PSDB e PPS, além das declarações da oposição em meio às manifestações. Todos falam que o povo foi às ruas por causa dos altos preços dos ônibus e de tudo mais.

O que foi que fez a Globo considerar que o movimento "ultrapassou os limites"? Chamo a atenção para o seguinte trecho do editorial:

..."O conflito entre apartidário e antipartidário terminou desvendando uma faceta de toda esta mobilização: a existência de uma agenda ultrarradical para além do passe livre, como a proposta de uma “reforma urbana”, fachada de um programa lunático de desapropriação de propriedades privadas nas cidades.

Questões como esta à parte, uma das várias zonas de perigo em que entrou o movimento é a ideia, também ilusória, subjacente às manifestações, de que, na democracia, é possível atingir objetivos políticos à margem dos partidos. O problema é que, se goste deles ou não, pensar em alguma tramitação ao largo dos partidos é enveredar por atalhos golpistas. Algo que se aproxima da perniciosa “democracia direta” chavista, em que as instituições republicanas são subordinadas a um Executivo cesarista, senhor de todas as decisões, manipulador-mor das massas, mantidas coesas por programas populistas assistenciais economicamente insustentáveis."...

Acompanho desde o início o movimento e em nenhum momento vi a tal "proposta de reforma urbana de desapropriação de propriedades privadas nas cidades", que seria o estopim para o recuo de mídia. O verdadeiro motivo está no parágrafo seguinte, onde fala da "perniciosa "democracia direta" chavista subordinadas a um executivo cesarista, senhor de todas as decisões". E o que são os "programas populistas assistenciais economicamente insustentáveis"? Isso parece o tal discurso praticado pela mídia contra o "bolsa-tudo" pelo qual atraem a direita contra Dilma.

De onde veio esse medo? O discurso de Dilma foi às 9 da noite. O editorial saiu à meia-noite, mais de 24 horas depois das cenas de vandalismo da quinta.  Falaram em atalhos golpistas que não lhes interessam. Eles enxergaram na proposta de Dilma a possibilidade de governar com as ruas e acelerar as propostas. A presidente deu ao movimento de ruas a opção entre ter o executivo aliado realizando as mudanças ou ficarem eternamente submissos a fascismos e arruaças com bandeiras esparsas pelas ruas, mandados por um avatar sem rosto. Isso assustou.  Entre as propostas que até os mais direitistas do movimento poderiam apoiar está a da regulamentação da mídia. Aí a festa acaba, todo mundo prá casa, acabam-se as transmissões enaltecendo o movimento, etc. Agora é Copa. Vão ter que inventar outra coisa, porque perderam esse round.



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