sábado, 22 de junho de 2013

Dilma quer apoio das ruas para acelerar mudanças

Que tal se a presidente da República se aliasse aos movimentos das ruas e contasse com o seu apoio para acelerar as mudanças? No pronunciamento à nação em cadeia de rádio e Tv ontem à noite a Dilma Roussef fez mais que dizer que entendeu o recado das manifestações de rua: ela pediu apoio para reformas e projetos que não consegue aprovar por causa da classe política.

Em suma: ela quer pressionar o Congresso e acabar com o jogo de negócios de balcão toda vez que precisa aprovar algum projeto mais avançado. Quando a militância perceber que a situação é bem melhor que aparenta, que a presidente não é uma tirana truculenta a serviço da corrupção, as coisas podem fluir bem mais fácil e rápido. Dilma quer ser solução, não parte dos problemas apontados pelas ruas. 

Ela diz que quer acabar com o mercenarismo dos políticos que a toda hora pedem mais cargos e mais dinheiro, e entende que pode ter nas ruas o poder para não fazer concessões a políticos corruptos. Isso é o início da solução da bandeira "pelo fim da corrupção". Vejam este trecho: 

"Minhas amigas e meus amigos, todos nós, brasileiras e brasileiros, estamos acompanhando, com muita atenção, as manifestações que ocorrem no país.

Elas mostram a força de nossa democracia e o desejo da juventude de fazer o Brasil avançar.

Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas.

Nesse trecho ela fala também das limitações econômicas, porque não consegue sozinha de opor ao poder econômico dos banqueiros, especuladores e grandes grupos econômicos, que patrocinam as 6 famílias donas de 70% da mídia, instrumento de manipulação pelo qual fazem política, impondo pautas que não são prioritárias aos interesses sociais. Na questão do combate à inflação o poder das ruas seria eficaz no boicote aos altos preços e na exigência de qualidade dos produtos. Tudo isso é enfrentamento com o poder econômico, que tem o apoio do Congresso onde a grande maioria é de latifundiários e empresários ricos.

Dilma também botou ordem na casa e quer o fim da violência,  subentendendo que não vai tolerar baderna, saques e atitudes fascistas. Alerta para o risco de golpe (colocar muita coisa a perder) se a violência sair de controle:

"Mas se deixarmos que a violência nos faça perder o rumo, estaremos não apenas desperdiçando uma grande oportunidade histórica, como também correndo o risco de colocar muita a coisa a perder.

Como presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia."

Ela faz o balanço positivo das lutas anteriores que levaram o Brasil à democracia, ligando o passado ao presente. A idéia é "as lutas no Brasil já existiam antes do "despertar do gigante" de hoje, e as coisas se ligam historicamente. Conquistamos muito, mas temos que avançar em mais justiça:

"O Brasil lutou muito para se tornar um país democrático. E também está lutando muito para se tornar um país mais justo.

Não foi fácil chegar onde chegamos, como também não é fácil chegar onde desejam muitos dos que foram às ruas."

No trecho a seguir, a invocação à democracia popular e ao poder da república, ou seja, do estado ser a expressão da cidadania e não um instrumento a serviço de grupos de interesses:

"Só tornaremos isso realidade se fortalecermos a democracia - o poder cidadão e os poderes da república.

Os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo. De propor e exigir mudanças. De lutar por mais qualidade de vida."

Deu o recado firme tanto aos que querem se aproveitar do movimento como aos responsáveis pela ordem pública. Nas manifestações se tem visto a ação de provocadores que incitam a violência policial e conseguem repressão em troca, retroalimentando o movimento com sentimento de revolta em relação à polícia. Mas a mesma polícia se mostra inativa quando as cenas de vandalismo, saques, arrastões e incêndios acontecem. Ela quer movimentos fortes sem o desestímulo que esses grupos provocam.

"De defender com paixão suas idéias e propostas. Mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira.

O Governo e sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos aos nossos principais centros urbanos.

Essa violência, promovida por uma pequena minoria, não pode manchar um movimento pacífico e democrático.

Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil.

Todas as instituições e os órgãos da Segurança Pública devem coibir, dentro dos limites da lei, toda forma de violência e vandalismo.

Com equilíbrio e serenidade, porém, com firmeza, vamos continuar garantindo o direito e a liberdade de todos.

Asseguro a vocês: vamos manter a ordem."

No próximo bloco, Dilma diz que a luta conquista e faz o apelo ao apoio para acelerar mudanças, e lembra sua própria história e a ditadura contra a qual muitos lutaram e pagaram preços altos por isso:

"Brasileiras e brasileiros, as manifestações dessa semana trouxeram importantes lições: as tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional.

Temos que aproveitar o vigor destas manifestações para produzir mais mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira.

A minha geração lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso.

A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada. E ela não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros."

Lembrou aos que querem passar a idéia de descontrole que o país tem presidente, eleita pelo povo, com a obrigação republicana de governar para todos. E que apóia a participação direta das massas, mais uma vez indicando que o caminho é a pressão pelas reformas e no combate à corrupção. Não há nenhuma acusação de corrupção à pessoa dela, e faz questão de lembrar isso ao dizer aos de má-fé que eles a conhecem e mentem para enfraquecê-la

"Sou a presidenta de todos os brasileiros. Dos que se manifestam e dos que não se manifestam.

A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática.

Ela reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos.

Todos me conhecem. Disso eu não abro mão."

No próximo trecho ela absorve a pauta de reivindicações e se coloca como aliada. Quer fazer parte das mudanças, dos avanços, do "querer mais". E diz que vai usar sua liderança para chamar os demais poderes, governadores e prefeitos para entrar nesse esforço. Deixa claro que a responsabilidade não é só dela, mas deve ser partilhada em todos os níveis de poder.

"Esta mensagem exige serviços públicos de mais qualidade. Ela quer escolas de qualidade; ela quer atendimento de saúde de qualidade; ela quer um transporte público melhor e a preço justo; ela quer mais segurança.

Ela quer mais.

E para dar mais, as instituições e os governos devem mudar.

Irei conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros poderes para somarmos esforços.

Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos."

Em seguida, coloca uma pauta de 3 pontos onde tem tido dificuldade de avançar projetos no Congresso e entre o empresariado, corporativismos e interesses privados:

"O foco será: primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que priviligie o transporte coletivo.

Segundo, a destinação de 100% do petróleo para a educação.

Terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do SUS."

Coloca os interlocutores sem distinção entre os movimentos "sem lideranças" e as organizações tradicionais, a quem se compromete a receber para receber contribuições. Abrir canais permantentes, de mão dupla:

"Anuncio que vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares.

Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências. De sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente."

Novamente o apelo à força das ruas para mudar o sistema político, onde a pressão das ruas é fundamental, porque não se consegue reformar apenas com a disputa de correlação de forças internas:

"Brasileiras e brasileiros, precisamos oxigenar o nosso velho sistema político. Encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, mais resistentes aos malfeitos e acima de tudo mais permeáveis à influência da sociedade."

Aqui, nesta simples frase, a opção pelo cidadão em oposição ao interesse econômico:

"É a cidadania, e não o poder econômico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar.

Quero contribuir para a construção de uma ampla e profunda reforma política, que amplie a participação popular."

Combate o antipartidarismo fascista que nas ruas destrói bandeiras de entidades sindicais, estudantis e populares que já vêm há anos lutando pelas mesmas causas e muito mais:

"É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático."

Chama os cidadãos à responsabilidade de fiscalizar, de controlar os seus representantes, como forma de combater a corrupção. E quer mais.

"Temos de fazer um esforço para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais abrangentes sobre os seus representantes.

Precisamos muito, mas muito mesmo, de formas mais eficazes de combate à corrupção.

A Lei de Acesso à Informação, sancionada no meu governo, deve ser ampliada para todos poderes da república e instâncias federativas.

Ela é um poderoso instrumento do cidadão para fiscalizar o uso correto do dinheiro público.

A melhor forma de combater a corrupção é com transparência e rigor."

Na questão da Copa deve ter surpreendido muita gente ao dizer que o governo federal só financia e não gasta nada do orçamento da União com ela, reafirmando prioridades de recursos para saúde e educação:

"Em relação à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas, é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e governos que estão explorando estes estádios.

Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a Saúde e a Educação."

Na falta de pautas objetivas pelo movimento, Dilma dá a direção em relação ao maior gargalo na melhoria da educação, que é a falta de verbas, que podem ser obtidas se o Congresso aprovar sua mensagem que pede 100% dos recursos e interesses paroquianos e de políticos interessados em manipular esse dinheiro impedem. Quer a bandeira dos "100% dos royalties para educação" na luta das ruas:

"Na realidade, nós ampliamos bastante os gastos com Saúde e Educação. E vamos ampliar cada vez mais. Confio que o Congresso nacional aprovará o projeto que apresentei para que todos os royalties do petróleo sejam gastos exclusivamente com a Educação."

Lembra que o Brasil esteve em todas as Copas, foi bem recebido e que o esporte é símbolo de tolerância entre os povos. Quer o povo recebendo bem as pessoas para que a imagem do Brasil se eleve em todo mundo. Ao mesmo tempo dá o recado à FIFA e ao mundo de que não aceita que se lance desconfianças sobre a realização dos eventos no Brasil, desmontando as suspeitas plantadas na mídia mundial.

"Não posso deixar de mencionar um tema muito importante, que tem a ver com a nossa alma e o nosso jeito de ser.

O Brasil, único país que participou de todas as Copas, cinco vezes campeão mundial, sempre foi muito bem recebido em toda parte.

Precisamos dar aos nossos povos irmãos a mesma acolhida generosa que recebemos deles. Respeito, carinho e alegria. É assim que devemos tratar os nossos hóspedes.

O futebol e o esporte são símbolos de paz e convivência pacifica entre os povos.

O Brasil merece e vai fazer uma grande Copa.

Minhas amigas e meus amigos, eu quero repetir que o meu governo está ouvindo as vozes democráticas que pedem mudança."

Fecha o discurso dizendo que quer ser aliada das ruas para mudar e construir, sem violência. Dilma se propõe a ser parceira, porque luta pela mesmas coisas e quer avançar, mas encontra obstáculos que só as ruas podem dar a força para remover.

"Eu quero dizer a vocês que foram, pacificamente, às ruas: Eu estou ouvindo vocês!

E não vou transigir com a violência e a arruaça.

Será sempre em paz, com liberdade e democracia que vamos continuar construindo juntos este nosso grande país.

Boa noite""

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