quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Prá não dizer que não falei do Papa

A notícia do dia, por que não dizer dos últimos seis séculos, é a renúncia de um papa hoje. Nas TVs há filas de analistas, vaticanólogos, clérigos e outros que dão desde motivos de saúde a problemas de corrupção e perversões sexuais para a renúncia de Bento XVI.

Para os ateus esse seria um assunto irrelevante, pois quem não consegue justificar a presença de um ser acima de tudo muito menos consegue entender como se monta todo um aparato em torno da fé. A sucessão no Vaticano teria, para os ateus, a mesma importância de problemas na eleição da diretoria do Vasco para a torcida do Flamengo. Seria uma questão de foro interno de uma instituição alheia.

O problema é que a Igreja Católica não se restringe às muralhas da Santa Sé nem ao conjunto dos seus seguidores. Ela exerce poder real. Influencia governos. Faz acordos até com a CIA. Persegue pessoas. Faz lobby na imprensa. Apoia governos ditatoriais. Tenta impor sua ideologia através de catequese forçada. Isso afeta a todo mundo, cristãos ou não, daí termos que falar sobre o que vem por aí na igreja.

A disputa do poder é feroz. Bento XVI não segurou a onda, mas tenta fazer um processo controlado de sucessão, colocando alguém com mais disposição para dar continuidade ao seu legado, ou seja, mais reacionarismo, mais afastamento das pessoas por dissonância com os tempos modernos, mais abordagens preconceituosas e principalmente omissão em relação aos próprios escândalos.

Um estrategista olharia para o panorama mundial e diria que o novo Papa deveria ter a missão de estancar o crescimento de religiões concorrentes em cima do rebanho católico na América Latina e África e buscar novas áreas de expansão entre os bilhões de ateus, em especial na Ásia. Combater as visões anarquistas que pululam na Europa em crise e o esquerdismo na América Latina, em especial no Brasil, Bolívia e Venezuela.  Para isso deveria fazer concessões em alguns pontos que afastam os fiéis, para focar no que há de mais importante, que é a promoção da fé cristã.

Um candidato de terceiro mundo seria um gesto no sentido estratégico correto dentro da visão de fortalecer a igreja como instituição de poder. O problema é que o clero eleitor é "eurocêntrico" e principalmente "italocêntrico" e se a disputa é pelo poder, seria inconcebível passar o comando a alguém de fora do "centro" da Igreja. A nós outros, que não torcemos por esse time, resta saber o que vão fazer e que implicações isso terá para as nossas vidas, já que não decidimos nada.

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