domingo, 24 de fevereiro de 2013

Lei Seca trará novos hábitos

Com a tolerância zero na mistura bebida x volante e a imposição de multa e punições mais rigorosas, finalmente parece que algo vai mudar nessa carnificina que leva aos hospitais e ao túmulo milhares de pessoas todos os anos no Brasil. Dados do governo mostram que os mortos no trânsito têm escolaridade acima da média, e estão em idade produtiva, em geral jovens, cujo futuro é brutalmente ceifado.

Aqui no Rio o rigor era maior que em outras cidades. Cheguei a passar por 4 blitz da lei seca num percurso de 15 km, antes do aumento do rigor. Tinha tomado um chopp e estava tranquilo até para fazer teste do bafômetro, se tivessem pedido. Agora não dá mais. Vi em programa de TV que o novo valor de tolerância não deixa passar nada, nem bombom de licor. É zero mesmo! E não tem produto que mascare, nada. Multa de quase R$ 2.000, perda da carteira por um ano, apreensão do veículo e até cadeia, dependendo do nível de álcool no sangue.

Como a comprovação passou a ser também testemunhal, quem se envolver num acidente de trânsito poderá ser considerado alcoolizado ao sabor dos depoimentos de policiais e peritos. Com a criminalização do álcool na direção, empresas de seguro de veículos buscarão evidências nos acidentes para não pagar indenizações, caso o motorista tenha bebido qualquer quantidade.

Noutro dia na praia o barraqueiro disse que o movimento de venda de bebidas tinha desabado, mesmo sendo corrente o mito de que não há blitz durante o dia. Já há algum tempo os polos gastronômicos mais isolados, que não estão em áreas residenciais consumidoras, estão tendo problemas porque os clientes temiam ser pegos nas blitz, ou na hora de ir embora, sem opções de transporte público, rotineiramente eram achacados por motoristas de táxi que cobravam a mais aproveitando-se da situação.

Quem ganhou com isso foi o boteco do bairro, aquele onde se vai a pé. Vejo isso aqui no Grajaú, depois da pacificação dos morros, onde o risco de andar pelas ruas à noite reduziu muito. Os bares estão sempre lotados. Aí vem o oportunismo: os preços das bebidas e comidas está disparando, mesmo sem grandes qualidades dos estabelecimentos. Desse jeito, mais uma mudança poderá acontecer: em vez de beber na rua, as pessoas beberão em casa, chamando amigos, rateando despesas.

Quanto aos programas de grandes públicos, a tendência será de convergirmos para o que já acontece nas grandes capitais do mundo: os eventos terão que acontecer mais cedo, para permitir o deslocamento pelo transporte coletivo. Até uma cidade como Tóquio tem um "toque de recolher" por volta das 23:30h. No domingo, por exemplo, a badalação começa por volta das 4 da tarde.

Aqui no Brasil a Globo determina que um jogo de futebol, em dia de semana, termina à meia-noite, quanto a oferta de transportes já é precária, porque tem os direitos de transmissão, etc. Isso vai ter que mudar, ou cada vez mais os torcedores verão jogos nos botecos, bebendo à vontade, já que no estádio já existe proibição de venda de bebidas alcoólicas.

Cada vez mais mulheres dirigirão, pois bebem menos que os homens, o que também é positivo, já que as chances de fazerem algo perigoso é menor. Enfim, parece que agora as pessoas que bebem terão que planejar melhor sua programação, e tomar cuidados que poderão fazer a vergonhosa estatística de mortos e feridos cair para patamares onde se possa falar de "acidentais". Do jeito que está, o álcool provoca assassinatos no trânsito.


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