sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

FANOAPÁ 022 - O delegado, as mulheres e a profissão

Marta Rocha, Chefe de Polícia do Rio
Com uma certa euforia a mídia comemora a exoneração do delegado da Polícia Civil do Rio, Pedro Paulo Pontes, e a nomeação para o seu lugar na delegacia do Catete (Rio) da delegada Monique Vidal, pela chefe de Polícia Marta Rocha. Poucas vezes se viu alguém escrever sobre discriminação de mulheres, mesmo na forma de desabafo por problemas de gestão de recursos humanos, já que o "normal" é a atitude "democrática" de dizer que todo mundo é competente, tem as mesmas chances, independentemente de gênero, etnia, opção sexual, etc.

O delegado não guardou para si seus problemas. Como regra para entrar no rol da Falta de Noção que Assola o País, colocou seus comentários sinceros porém politicamente errados nas redes sociais, onde todo mundo acha que só tem amigos até que um pegue o que está escrito e te detone. Disse que na sua equipe tem muitas mulheres, e que somente uma tem o perfil para a função, e é melhor até outros funcionários homens. Isso custou a sua cabeça.

Em meio à execração pública de mais um caso de machismo que essa falta de noção permitiu há uma afirmação divulgada pelo delegado que mereceria ser comentada pela imprensa, mas esse não é o foco do sensacionalismo. Ele disse que tem gente que faz concurso para certas profissões achando que vai trabalhar num escritório, burocraticamente. O sentido é bem diferente de uma outra falta de noção famosa, do técnico da seleção Luiz Scolari, que disse numa entrevista coletiva que quem quer moleza deveria ir trabalhar no Banco do Brasil.

Ao longo da vida presenciei na prática vários casos de inadequação ao perfil, no sentido do concurso, e nada tem a ver com gênero. Há pessoas com grande conteúdo de formação, capaz de passar em qualquer concurso, que não se preocupam muito com o "depois". Simplesmente se inscrevem, porque o salário é bom, acham que o trabalho será tranquilo porque olham para as pessoas bem sucedidas na carreira, passam e a maior dificuldade acaba sendo o teste físico, pois em geral são pessoas muito afeitas ao estudo e pouco à prática de exercícios. Depois que tomam posse é que vão ver que para chegar ao topo, onde estão os seus referenciais, a trilha profissional é dura e às vezes incompatível com  as suas habilidades e posturas. Restam as alternativas de continuar estudando e fazendo outros concursos ou ficar sofrendo numa profissão que não bate com os seus valores.

O pensamento do delegado está em todas as organizações tradicionais, e acaba sendo um gargalo para a ascensão das mulheres. Como é quase um senso comum entre os homens, as oportunidades de formação são "naturalmente" dedicadas aos homens, que ganharão vantagem na ascensão. Isso em qualquer parte do mundo. Ainda ontem o presidente americano Barack Obama aprovou que mulheres militares lutem em frente de combate e acessem cargos que antes só os homens conseguiam na carreira. A delegada Marta Rocha, que deve ter sido vítima desse tipo de política, fez bem em colocar uma mulher no cargo como exemplo para a sua equipe. Enquanto isso, no Brasil de Dilma e no Banco do Brasil, a "moleza" de Scolari, entre 53 cargos executivos não há uma única mulher. 

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