segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Crise grega, dólar, Plano Obama, etc


Escrever a partir do exterior sobre assuntos brasileiros e gerais faz alguns brasileiros que despejam arrogância a partir de Nova Iorque, Londres, Veneza, etc, crer que falam de uma tribuna como iluminados. Eles são pagos para esculachar o governo, valorizar os estrangeiros e contribuir para o complexo de vira-latas do povo brasileiro, dizendo que o bom é aqui e que lá nada presta, daí sermos um povo "inferior", que tem mais é que ficar calado quando uma potência fala, que temos mais é que servis, etc.


A gente combate essa visão colonialista dos clones mal acabados de Paulo Francis de graça, até porque ao capital não interessa patrocinar visões diferentes das suas. Quando se abre cadernos de turismo dos jornais brasileiros que falam dos países que fizeram parte do bloco hegemonizado pela União Soviética, os comentários são sempre depreciativos. Criticam a arquitetura sóbria, o urbanismo que prioriza o coletivo, e valorizam as novas elites, suas opções de consumo de luxo, a riqueza de poucos, sem falar do que essa acumulação representa em termos de miséria para a grande maioria da população que era beneficiada pela melhor distribuição dos recursos.

Pensamos diferente, e por isso aproveitamos, onde podemos, para promover o Brasil e seus programas sociais, que por restritos e paliativos que sejam, apontam para os que aqui estão como formas de combater a crise. E botar o capital para pagar a conta da crise. Décadas e décadas de propaganda imperialista anti-socialista e erros dos burocratas dos governos ditos socialistas parecem ter criado uma forte repulsa à luta de classes por aqui. Quando vejo a campanha ideológica, sistemática, contra o PT, Lula e tudo que representou no Brasil a contrariedade, mesmo que limitada, aos interesses do capital, entendo onde querem chegar. Mesmo que o PT e Lula sejam criticáveis, o importante para eles é sempre negar que existe outra solução que não seja a dos ricos. E incutir isso profundamente nas mentes da maioria, para torná-la refém.

Por aqui os assuntos locais são muito valorizados nos jornais e na TV. Quando resta espaço para algo de fora, o escopo é a Europa e mais dificilmente os Estados Unidos. Ásia, África e América do Sul quase nunca aparecem, e mesmo assim quando o assunto é desgraça ou esporte. No Brasil é que a mídia tem a mania de valorizar as grandes potências nos noticiários e a partir daí os analistas trabalham em cima das consequências das decisões superiores sobre os brasileiros. Sempre a ênfase de atender a certos interesses, mais especialmente dos banqueiros e demais especuladores. Pelo mesmo princípio, uma greve de bancários merece da imprensa vendida mais destaque e porradas que a de professores em Minas, por exemplo.

A crise grega, por exemplo, é assunto de poucos por aqui, na Eslováquia, e mesmo na vizinha Áustria. Os efeitos são secundários, quase não perceptíveis numa relação causa x efeito ao povo em geral, mas afetam muito. Aqui em Bratislava o principal museu está fechado, e no site tem a seguinte mensagem:
"O Museu da Cidade de Bratislava anuncia ao público em geral, que a partir de 15 09 2011, ficará temporariamente fechado . Essa medida de emergência é uma resposta necessária para a dramática situação financeira do Museu e da cidade de Bratislava."

Hoje o principal supermercado da cidade velha tinha ofertas e estava lotado de gente querendo promoções. Creio estarem ali pessoas do melhor poder aquisitivo, porque é a região mais cara da cidade, e por ser turística nos padrões europeus, por aqui não tem mendicância nem outros sinais de pobreza. Isso deve estar mais para os subúrbios, que ainda não visitamos. Eles pagam o preço do euro como moeda, que encarece o custo de vida e nivela os preços com os da Alemanha, principal beneficiária da moeda unificada. Os governos estão segurando os gastos e investimentos, e ainda não temos informação para analisar o nível da crise local.

Na TV não dá para entender nada em eslovaco e o noticiário é bem local, por isso recorremos à BBC para ter notícias mais gerais. A principal de hoje é o plano de Obama para a crise, que basicamente tem duas vertentes: reduzir gastos públicos, sem mexer nos planos de saúde social e cobrando o retorno das empresas que foram ajudadas no auge da crise, e aumentar os impostos para os ricos. Qualquer americano mediano sabe que isso é um plano visando eleições. Obama manda a mensagem para o congresso, os republicanos rejeitam ou descaracterizam, e ele sai acusando a oposição de ser anti-povo, etc.

Dos sites brasileiros o principal assunto econômico é a valorização do dólar, assunto que interessa especialmente a quem viaja para o exterior. Quem fugiu de comprar no cartão de crédito para não pagar os 6,38% de IOF se deu bem comprando moeda estrangeira em cartões de débito (travel money), porque já pagou à vista com cotação menor. Para quem vai viajar, ficou mais caro, e o governo tem a crise grega como motivo para segurar o déficit do balanço de pagamentos com viagens sem precisar baixar pacote e queimar o filme com a classee média que está se esbaldando como nunca.

O dólar está subindo principalmente por causa da maturação de ações do governo para conter a apreciação do real: taxação das compras em cartões, aumento do IOF sobre operações do capital estrangeiro, queda da SELIC, dificultação de hedge com moeda estrangeira, etc. Fora isso, há a volatilidade dos mercados com a crise grega, levando alguns a comprar dólares como garantia.

De um lado, o governo Dilma conseguiu o objetivo de conter a queda sem freio do real, que vinha dificultando as exportações e fechando indústrias pela impossibilidade de concorrência com produtos importados. Como o Brasil tem reservas de mais de 300 bilhões de dólares, o Banco Central tem munição à vontade para frear a subida do dólar no patamar que interessar, para evitar a inflação e continuar a política de redução dos juros. Acho que o dólar a R$ 1,80 deve ser a cotação desejada, porque isso já foi falado por gente do governo em outras ocasiões.

Por outro lado, os banqueiros aproveitarão a oportunidade para alardear pânico pela sua mídia amestrada, e os "especialistas" do capital dirão em uníssono que a hora é de reduzir gastos públicos, fazer reforma da previdência, não aumentar salário mínimo e, claro, aumentar os juros. Da nossa parte, a gente faz o que pode para ajudar na crise grega. Vide foto. E algo nos diz que nessa temporada por aqui poderemos presenciar a explicitação das tensões da crise.

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