domingo, 2 de janeiro de 2011

Posse de Dilma - parte final - Dilma lá!



Assim como Lula vinha nos últimos dias constatando o fim das mordomias do cargo, a vida pessoal de Dilma deve ter virado uma prisão, não a dos 3 anos, como torturas, mas de 4 anos, com pressões que só uma pessoa muito equilibrada ou muito pouco equilibrada podem aguentar. Isso começa na campanha, quando a candidata tem cada palavra e gesto medido a partir das pesquisas de opinião. A roupa, a maquiagem, o discurso, a hora de dormir e acordar, tudo sai do controle da pessoa e passa para as assessorias. Chegando à posse, tudo isso deixa de ser amador e passa a ser muito mais protocolar, formal. E público também.

Dilma deve estar achando ótimo ter uma família bem pequena e sob controle, onde dificilmente alguém sairá por aí vendendo a lobistas a possibilidade de influir no governo ou enriquecendo com favores de fornecedores. Ruim para a mídia raivosa, que terá que inventar mesmo as coisas, sujeitando-se ao desmascaramento. Bom para o país, porque os hábitos da presidente, além da sua maior cautela no que fala e faz, não serão motivos para achincalhe pelos lobos de plantão.

A presidente será colocada como o oposto a Lula por algum tempo, enquanto interessar à imprensa a desconstrução do ex-presidente. Lula incomodava muito, e para a elite a sua saída foi vista com alívio, mesmo que no seu lugar entre outra pessoa fazendo a mesma coisa, e, ao meu ver, bem mais ameaçadora que ele, porque terá mais poder para fazer algumas reformas, mesmo de efeitos tópicos, mas que representarão uma revolução na nossa política do século XVIII, como a regulamentação das comunicações.

Dilma foi tão discreta na posse que os comentários mais importantes foram o aperto de mão de Hillary Clinton e Hugo Chavez e o contraste de idades entre Michel Temer e sua esposa Marcela, assunto que chegou a "trending topics" no Twitter. O vice-presidente tem 70 anos, e Marcela, 28. Lula também foi discreto, considerados os seus padrões espalhafatosos. Virou um mito e foi prá galera, e não serão os livros que virão contando casos pitorescos do seu governo que tirarão da memória popular a idéia que foi o melhor governante que o país ja teve. Não chegou a roubar a cena, mas o público da posse, em maioria, foi embora junto com ele.

Chavez não conseguiu roubar a cena, como de praxe. Acabou saindo mais cedo, e foi embora, mesmo com uma audiência com Dilma marcada para hoje pela manhã. Hillary fez questão de tirar fotos ao lado de Dilma, certamente para usar como reforço à sua própria campanha à presidência dos Estados Unidos. Dilma hoje é a mulher mais poderosa do mundo, pois governa quase 200 milhões de pessoas. Hillary tem poder, mas é subordinada a Obama. E ainda tem contra si a pré-candidata Sarah Palin, aquela bizarra ex-governadora do Alaska que foi candidata a vice na eleição passada para a presidência, que já está em campanha.

Dilma inaugurou o estilo sóbrio, e mesmo a ênfase na colocação de mulheres como ajudante de ordem, na segurança durante o desfile e no ministério. Se continuar com a postura de isolar a grande mídia, como fez desde que se elegeu, não dará motivo a muitas manipulações da mídia. Continuará o seu trabalho de executiva, deixando para os "três porquinhos" a tarefa de sujar as mãos no trato com a politicagem rasteira. Trabalhará por trás de blindagem, deixando aos opositores e à mídia espaços apenas para criticar o seu governo, não à sua pessoa.

Dilma não botará a cara para levar tapa como Lula, que fez da sua pessoa a blindagem do seu governo e das trapalhadas dos aliados. Personalizando menos o seu governo, sem necessidade de mostrar que tem que governar para fugir a estereótipos e preconceitos, o foco recairá sobre o seu governo e o congresso, politizando mais os debates. Será mais respeitada pela elite, que poderá começar a admitir que houve avanços no governo anterior, sempre como resultado do "legado" de FHC. Para os poderosos, apagar da história que um trabalhador foi o melhor governante que o capitalismo brasileiro já teve, será uma tarefa permanente.

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