domingo, 11 de abril de 2010

Niterói : Deslizes e deslizamentos.






Recebi por e-mail fotos da catástrofe do Morro do Bumba, em Niterói, do meu amigo Cláudio, de Niterói, que não se contentou com o que via pela TV e foi ao local apurar a verdadeira extensão da tragédia. Do que viu, relatou:


"As proporções da tragédia foram muito maiores do que as cameras de TV ou meu celular conseguem captar. As pessoas que sucumbiram, pagavam IPTU, tinham rua pavimentada com aproximadamente 15m de largura, com fornecimento de água e luz legalizados e devidamente pagos. Ou seja, a urbanização do lugar foi realizada em área completamente instável, e devidamente alertada pelos técnicos da UFF, PUC e outros órgãos, com inúmeras comunicações realizadas para a prefeitura já há pelo menos 20 anos, que por sua vez ignorou solenemente os riscos. E nesses 20 anos é Jorge Roberto Silveira quem governa, diretamente ou com seus comandados, como foi o caso do João Sampaio. Jorge Roberto escondia as partes pobres da cidade, enfeitava o litoral e dizia que Niterói tinha a segunda melhor qualidade de vida do país, com isso forjando argumentos de especulação dos impostos, e jogando literalmente os pobres e o lixo para debaixo do tapete mortal dessa urbanização assassina."

São erros em cima de erros, deslizes que viraram deslizamentos. Os de Niterói são muito flagrantes, mas por todo o país a omissão do poder público mata muita gente em áreas de risco. Omissão por deixar ocupar, omissão por fazer melhoramentos públicos fazendo crer que não há perigos, omissão por não querer se indispor com eleitores, omissão pela falta de políticas de habitação para pessoas de baixa renda, omissão ambiental por se permitir desmatamentos em áreas de preservação e ocupação de várzeas e manguezais. Durante décadas se acumulou lixo ali, e agora tudo terá que ser retirado em semanas para localizar corpos. Se era tecnicamente possível tirar o lixão dali, e as casas de cima dele, por que não o fizeram?

Por outro lado, a especulação promove o discurso da remoção estética, de tirar as favelas porque desvalorizam as áreas vizinhas, por atrair criminosos, por trazer pobres para a visão dos ricos.
Essa política fascistóide, na Guanabara de Carlos Lacerda, retirou com violência moradores de diversas favelas e os jogou em lugares sem infra-estrutura nem empregos, como Vila Kennedy, por exemplo. Hoje no Município do Rio de Janeiro, por conta dessas remoções arbitrárias, é proibido por lei fazer remoções em áreas que não sejam consideradas de risco.

Mesmo podendo agir, ninguém faz nada também, e as construções rústicas desafiam as leis da estabilidade e à própria gravidade. E, como a ocupação irregular e os desmatamentos continuam, muita desgraça ainda acontecerá até que se faça algo efetivo, sistemático, uma política de tratar pobres como gente que tem o direito de morar decentemente, sem favelas nem riscos.

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