sexta-feira, 12 de março de 2010

Presos políticos cubanos : hipocrisia tem limite

Considero que a existência de presos políticos em qualquer regime significa desequilíbrio extremo nas relações políticas. A coisa tem origem na classe dirigente, que pode fechar completamente as oportunidades de participação de pessoas ou grupos, por razões ideológicas, induzindo ao confronto aberto, seja no campo das idéias, seja na luta armada. Estas podem encontrar apoio em inimigos externos do regime, provocando maior acirramento do combate do estado aos seus detratores.


Quase sempre os presos políticos são desrespeitados em seus direitos humanos, a começar pelo direito de livre pensamento, passando por maus tratos, torturas e até a morte. Isso aconteceu aqui, nas ditaduras de Getúlio e dos militares. Acontece em Cuba, tanto no lado da família Castro como na base de Guantânamo, enclave americano na illha, onde estão presos cidadãos do Afeganistão e Iraque, sem acusação, sem julgamento, submetidos a maus tratos. Ambos os lados estão errados, e descumprindo os direitos humanos, e o preso político de um não justifica o do outro.

O grande trunfo do regime cubano é a perene tentativa de derrubada do regime dito socialista pelos americanos, inflado pelo interesse eleitoral nos cubanos exilados na Flórida, que são um grande contingente. Várias tentativas de assassinato contra Fidel, a invasão de Baía dos Porcos, o bloqueio que quase causou uma guerra mundial, rádios e tvs que a partir dos EUA conclamam ao levante contra Fidel, o embargo comercial e leis americanas que punem empresas que negociarem com Cuba são argumentos que fazem "razoável" a alguns a prisão de cubanos por motivos de conspiração.

Do lado americano, não interessa regularizar as relações com Cuba por temerem um novo modelo chinês a menos de 200 km da Flórida, roubando suas indústrias que migrariam atrás de mão-de-obra barata e qualificada, com controle social pelo estado "comunista" garantindo uma orgia de apropriação de mais-valia. A eles interessa derrubar o regime e recolocar alguém que volte a fazer dos homens cubanos serviçais dos ricos americanos, e as mulheres, empregadas domésticas e prostitutas de cassinos, como antes da revolução.

Também contribuem para a "validação" desse tipo de prisão e deportações o apoio descarado de entidades americanas aos grupos de "direitos humanos" de Cuba. Para fugirem à pecha de regime autoritário, o governo cubano costuma desqualificar os presos políticos dizendo que são presos comuns, montando dossiês onde estão desordens, crimes comuns, bebedeiras, etc. É nesse tipo de versão que normalmente a nossa esquerda embarca, inclusive Lula, que se tornou alvo de pesadas críticas da grande mídia mundial por não ter sido ostensivo na condenação do regime cubano quando da morte de um preso em greve de fome quando ele estava por lá.

No Brasil, chega a ser risível a hipocrisia de gente que veio da Arena, partido da ditadura militar, em defesa dos direitos humanos...em Cuba. Hoje abro o Correio Braziliense e vejo a seguinte frase atribuída ao senador Heráclito Fortes, do DEMO, referindo-se à pífia punição de suspensão de 90 dias que aplicou a Agaciel Maia, operador do esquema de privilégios do Senado : "Eu gostaria da forca, mas no Brasil isso não é possível. A decisão é péssima, mas é a única possível. Não posso ser irresponsável de, para agradar a alguém, tomar uma decisão que amanhã não se confirma". Ligo a TV e dou de cara com o senador Demóstenes Torres, também do DEMO, falando como oposicionista numa matéria de condenação a Lula sobre a questão dos presos cubanos e na defesa dos direitos humanos ... lá.

De um lado, Heráclito quer a forca, mesmo dizendo que a medida que tomou pode ser revertida amanhã, ou seja, enforca e depois julga. A última coisa parecida com essa declaração foi do ditador militar Figueiredo, perguntado sobre a continuidade da "abertura política" do regime : "a abertura continua, e quem for contra, eu prendo e arrebento". Do outro lado, um parlamentar também do DEMO defendendo arduamente dos direitos humanos, como se fosse sua maior preocupação. A pergunta que não quer calar: se a preocupação não passar de uma grande hipocrisia para desgastar Lula, por que o DEMO foge do Plano Nacional de Direitos Humanos, em especial da possibilidade de reabrir as investigações de torturas durante o regime militar? Deveriam se juntar à ex-presa política, torturada nos cárceres do regime militar Dilma Roussef, na busca da punição aos seus algozes. A hipocrisia da oposição de direita parece contar com a fraca memória ou subestimar a inteligência das pessoas.










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