sábado, 17 de outubro de 2009

Rio : a banalidade da guerra

Quase todos os dias ouve-se tiros no Grajaú, Tijuca, Andaraí e Vila Isabel, no Rio. Quem está em lugar seguro não deixa de ver sua novela, para de jantar ou deixa de dormir por causa disso. A guerra está lá fora, longe, é só não ficar em linha de tiro que fica tudo bem. Tiros já não assustam nem comovem como há uns 20 anos. Os tiroteios são vistos como um evento como uma chuva, que vem e passa. Já o que aconteceu nesta madrugada no Morro dos Macacos assustou, porque as armas de grosso calibre e as granadas fugiram ao "normal".


Precisei ir a Vila Isabel buscar meu carro. Passando pela praça Barão de Drumond, que é o centro do bairro, vi um contingente do BOPE parado e o acesso ao túnel Noel Rosa fechado. Grupos de pessoas estavam em bares, algumas bebendo, enquanto se ouvia tiros no morro dos Macacos, que fica a 200 m do local, distância muito pequena considerado o alcance das armas de fogo. Idosos e crianças viviam o seu normal, andando pela praça e pela Av. 28 de Setembro, o comércio normalmente aberto, enfim, a guerra estava ali, ao lado, mas o cotidiano não se afetava.


Entrei no clima e fui até mais perto ver o que acontecia, para fotografar e conversar com as pessoas. Alguém me disse com tranquilidade que havia 3 corpos no início da ladeira da R. Torres Homem. Olhei de longe, e, de fato, os corpos estavam lá, cercados por um grupo de curiosos. Não cheguei perto porque nessa hora bateu a razão e vi que estava correndo risco. Conversei com um grupo de idosos e perguntei sobre a necessidade de uma Unidade de Pacificação na área. Uma pessoa respondeu que seria pior, e que a vida ali era boa, mas que ficava ruim quando tentavam invadir o local.


Peguei o carro e segui a Av. Visconde de Santa Isabel, chegando à delegacia onde estava toda a imprensa e todo o comando da operação. E muita gente curiosa olhando, possivemente moradores da comunidade em guerra, como se estivessem esperando a chuva passar ou esperando o estádio esvaziar para não pegar trânsito. As pessoas mais nervosas que encontrei eram profissionais de imprensa, alguns com coletes à prova de balas bem finos. O pessoal do BOPE, apesar da iminência do risco de entrarem em confronto a qualquer momento, estava relativamente tranquilo.


Depois, já no Sampaio, os grupos de curiosos ficavam parados em locais de alto risco, em caso de tiroteio, mas parecia que havia a certeza de que nada aconteceria. Questionei a alguns sobre a gravidade da situação, com helicóptero derrubado e policiais mortos, e obtive como resposta que o que vi não teria sido o pior que já aconteceu na área, ou seja, que outros helicópteros já tinham caído, que o viaduto do Túnel frequentemente virava praça de guerra, enfim, tudo aquilo estaria dentro da "normalidade".

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