quarta-feira, 1 de julho de 2009

Plano Real : trocando inflação por dívidas

Há exatos 15 anos, a equipe do economista Edmar Bacha fazia valer o chamado Plano Real, que criava uma moeda provisória, a URV, e o próprio Real. O plano aproveitou que o país, após a queda de Collor, estava recuperando o fluxo de entrada de capitais, e bancou a retenção da inflação com a supervalorização da moeda, criando dívidas cobertas por esses fluxos. Era a chamada "âncora cambial".

Com a moeda valorizada, a princípio mantendo a paridade com o dólar e por um tempo mais apreciada que a moeda americana, as exportações caíram, e as importações passaram a ditar os preços internos, havendo muita quebradeira na indústria nacional. O déficit comercial crescente também virou dívida. Por fim, para continuar atraindo capitais, mesmo em meio à crise asiática e depois a russa, passou-se a praticar no Brasil as maiores taxas de juros, atraindo capitais especulativos e gerando mais dívidas.

Tudo isso fez parte da chamada "herança maldita" que Lula pegou em 2003. Com os bons ventos do exterior, com muita sorte e principalmente credibilidade, o governo Lula desmontou esse modelo que tirava a capacidade de investimento público e os recursos para programas sociais. Hoje há superávits comerciais consistentes, fluxos de investimentos diretos para a produção e a menor taxa de juros da história, em meio a programas sociais extensos, investimentos em infra-estrutura e a relação dívida x PIB também é das menores. O Brasil pagou o que devia ao FMI, e lhe emprestou US$ 10 bi das reservas internacionais, que são em volume superior ao montante da dívida externa.

O Plano Real serviu politicamente ao estelionato eleitoral que elegeu FHC. Sem ele, Lula teria vencido as eleições em 1994, já que as pesquisas mostravam sua vantagem na ordem de 41% a 4% sobre FHC em maio. Assim que saiu o Plano Real, o governo Itamar surfou no zeramento instantâneo da hiperinflação, que fez o poder de compra dos salários subir e levou a classe média ao paraíso do consumo, inclusive viagens ao exterior, aproveitando a moeda forte. Elegeu FHC, que manteve a relação real x dólar até a sua reeleição. Depois, explodiu, e a moeda americana chegou a valer R$ 4 pouco antes da posse de Lula. Hoje está a R$ 2, e caindo.

FHC também vendeu barato o Brasil para dar fôlego ao seu modelo, e não adiantou muita coisa. Deu a Vale, a telefonia, a energia e só não passou adiante a Petrobrás e o Banco do Brasil porque houve forte resistência. Hoje deve estar morrendo de raiva ao gritar ao vento que foi o "pai do Real", e ver que Lula conseguiu fazer muito melhor que ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário