quarta-feira, 29 de abril de 2009

COPOM hoje: teste para o governo

O mercado prevê uma queda de 1% da SELIC na reunião do COPOM que acontecerá hoje à tarde. Se assim for, o Brasil deixa a incômoda posição de maior pagador de juros reais do mundo, ficando atrás da China e Hungria. Não fica em terceiro lugar desde 2003.

Na questão da queda de juros há alguns fatores que o mercado não parece ponderar. Um deles é que desde a última reunião, que baixou em 1,5% a SELIC, o presidente do BB, Lima Neto, foi destituído do cargo porque o governo achou insuficiente o desempenho do banco na queda dos juros dos financiamentos, fazendo o jogo do cartel dos bancos privados. Outro é que, de lá para cá, o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, chegou a dar entrevista como potencial candidato ao governo de Goiás apoiado por Lula, e depois recuou dizendo que vai ficar no cargo até o fim do atual governo.

Do ponto de vista técnico, mais indicadores macroeconômicos contribuíram para a convicção da estabilidade da inflação, como a queda dos preços de alimentos, a manutenção de reduções de impostos para veículos e a extensão da renúncia fiscal a fogões, geladeiras e lavadoras.

A reunião do G-20 trouxe ganhos políticos ao Brasil, com a divulgação da imagem de país de bancos sólidos e economia saudável, contribuindo para a perenidade dos investimentos produtivos externos.

O governo também baixou a previsão do superávit primário, sinalizando que precisará de menos provisões para pagamento de juros, o que só ocorrerá se o Banco Central reduzir fortemente a taxa básica. No período, o Risco Brasil caiu do patamar de 400 pontos. Por fim, está para sair um pacote de alteração nas regras da poupança, visando impedir a migração do capital especulativo para esse ativo que é o preferencial das pessoas de baixa renda.

Se hoje a SELIC cair "apenas" 1%, terá sido uma vitória do poder de fogo dos banqueiros e especuladores. ao manterem os juros reais em absurdos 5,8%. Por outro lado, se repetir os 1,5%, será claro o indício do fim da blindagem do Banco Central e do início do poder do governo sobre a sua gestão. Aquilo que o mercado chama de "intervenção política", e eu chamaria de legítima gestão governamental.

Uma queda inesperada de juros pode indicar que Meireles terá que se manter no cargo baixando os juros por determinação do governo, mesmo não tendo sido essa a sua função desde que o mercado o impôs a Lula em 2003. De qualquer forma, o mercado prefere um dos seus resistindo dentro do BC a uma mudança mais radical como a que houve no BB. Se já tivesse saído o pacote da poupança, eu apostaria até em uma queda mais forte. Vamos ver quem leva essa.

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